Proposta Curricular

Em busca do desenvolvimento integral da criança, a Creche Mãe Cristina, pretende seguir uma abordagem sociointeracionista de Lev Vygotsky e os princípios da abordagem desenvolvida por Emmi Pikler para a primeiríssima infância (de 0 a 3 anos). A primeira propõe à criança a construção do conhecimento, partindo de investigações acerca do mundo, considerando-a um agente ativo do processo ensino-aprendizagem, sendo o professor facilitador desse processo e a segunda leva em consideração que a criança é um ser pensante desde seu nascimento e deve ter acesso a condições de desenvolvimento dentro de seu tempo e ritmo, com motricidade livre. Desta forma, objetiva oportunizar o desenvolvimento integral da criança, priorizando a construção de conhecimentos, a socialização, a autonomia e a cooperação, brincando e vivendo a infância na sua plenitude.
Assim, a abordagem sociointeracionista de Vygotsky reflete sua compreensão de que tanto a utilização de recursos (materiais ou psicológicos), como também a presença de agentes mediadores na figura do mais experiente (educador), representa uma proposta curricular que parte do pressuposto de que o indivíduo constrói o conhecimento na sua interação com o meio, no entanto, essa relação é permeada por um contato com o outro, tendo aqui a clareza de que esse outro desempenhará um papel de extrema relevância no processo de aprendizagem.
“(...) o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente das crianças.” (Vygotsky, 1984 pg. 101).
Baseados na proposta sociointeracionista as atividades serão desenvolvidas em forma de projetos que desencadeiam outros projetos que são desenvolvidos no decorrer de todo o ano.
O projeto traz a ideia de horizonte, de leitura de grupo, podendo incluir o trabalho com qualquer grupo de criança. Tanto para bebês quanto para crianças maiores, o projeto é viável considerando os conteúdos diferenciados, conforme suas próprias características.
O projeto deve ter como base a observação do grupo de crianças e seus interesses, além de levantamento junto às famílias e profissionais da Entidade sobre temas relevantes para o desenvolvimento das crianças. Trabalhamos com projetos porque concordamos com as palavras de Danilo Santos de Miranda, sociólogo, Diretor Regional do SESC no Estado de São Paulo, que diz:
“Nos projetos não se aprende apenas uma ou outra técnica, mas se exercita o questionamento, a interação, a descoberta de novas possibilidades. Em cada projeto, se percebe o valor do trabalho em grupo, o respeito às opiniões diversas, o encontro das diferenças e das subjetividades... cada uma dessas atividades agrega situações que privilegiam as interações pessoais, o desafio pela superação dos limites, o convite à ampliação do conhecimento e a satisfação pessoal... Assim, a palavra ensinar é substituída pela palavra vivenciar. Enfim, entendemos educação como um processo necessário para proporcionar a todos a capacidade de desfrutar dos bens culturais da sociedade e atuar diante desses bens com espírito de crítica, criação e renovação. Essa é a nossa proposta de educação, que contempla a diversidade, que contempla o compromisso com a tarefa da transformação social.”
Quanto à abordagem de Emmi Pikler para a primeiríssima infância (de 0 a 3 anos), ela completa e amplia o sentido de cuidar e educar. O adulto deve estabelecer uma relação de confiança e interação com o bebê durante os principais cuidados e o espaço deve ser organizado para que este possa se movimentar com mais liberdade (motricidade livre) desde muito cedo, proporcionando autonomia, melhor desenvolvimento motor e respeitando o tempo de cada um.
Os bebês devem ser respeitados como pessoas de valor e não serem tratados como objetos ou como “pequenas pessoas fofas sem cérebro e manipuláveis”. Eles já nascem com autonomia, mas aprendem a cuidar de si pela intencionalidade das ações, daí a importância do educador referência para que aconteça o fortalecimento de vínculos e se estabeleça um modelo operacional interno positivo.
Olhar, falar e tocar respeitosamente o bebê, com respostas calmas e construtivas, aproximação, proximidade física, escuta cuidadosa e aceitação de limites, fatores essenciais para favorecer o desenvolvimento saudável da inteligência, tornando-os adultos seguros e com iniciativa.
Há quatro pontos importantes que exemplificam bem essa abordagem, que são:
1-O respeito e a confiança na capacidade da criança. Nesse sentido, não devemos força-la a ficar de pé ou sentada se essas forem posições que ela ainda não tenha alcançado por si só. O bebê pode aprender muito se acreditarmos nele e respeitarmos seu ritmo;
2-Realizar os cuidados de maneira respeitosa, considerando a criança como parceira, observando e possibilitando sua participação ativa, olhando em seus olhos e interagindo com ela;
3-Olhar atento para a saúde e o bem-estar da criança, aspectos fundamentais para o seu desenvolvimento;
4-Se relacionar com os pequenos de maneira positiva e não proibitiva ou punitiva. Eles crescem ouvindo “Não faça isso!” o tempo todo, mas há outras maneiras mais respeitosas de ensinar regras, dialogando e mostrando a diferença entre o certo e o errado, o bem e o mal.
"Uma criança emocionalmente bem ajustada tem infinitas ideias , enquanto o interesse de uma criança com dificuldades é constrangido, como se seu desejo de experimentar, descobrir e aprender houvesse acabado. À propósito, se pode identificar uma criança infeliz, pela superficialidade de seu brincar." (KÀLLO e BALONG em As origens do Jogo livre!)
Também temos que considerar como proposta curricular dessa Unidade Educacional a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), importante documento que define os direitos de aprendizagens de todo aluno e aluna do Brasil, um salto histórico para a Educação Infantil, pois reconhece essa etapa da vida como essencial para a construção da identidade e da subjetividade da criança.
CONVIVER, BRINCAR, PARTICIPAR, EXPLORAR, EXPRESSAR E CONHECER-SE, passam a ser direitos de aprendizagem fundamentais para que a criança aprenda a pensar sobre o mundo ao seu redor, desenvolver estratégias de observação, criar hipóteses e narrativas.
A criança mais do que nunca passa a ser o centro do processo educativo, e para isso a BNCC estabelece campos de experiência para a Educação Infantil que indicam quais são as vivências fundamentais para que a criança aprenda e se desenvolva. 
A BNCC vai de encontro ao que já é preconizado na proposta curricular dessa Unidade Escolar, mas auxilia as práticas do professor para realizar atividades em tempos e espaços vividos pelas crianças diretamente comprometidas com as necessidades e os interesses da criança, para que a vivência se transforme em uma experiência e tenha, de fato, um propósito educativo.
O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS APRESENTADAS PELAS CRIANÇAS
Até aproximadamente a década de 60, a questão educacional era caracterizada por uma visão dualista, desde a qual se legitimou a existência de um duplo sistema educativo: o ensino regular e o ensino especial. A inclusão escolar em que acreditamos implica em superar esta visão dualista que dominou a educação especial, para lançar um novo olhar do que seja a escola, a educação e a sociedade. Na nossa prática, isto significa uma mudança no foco de atenção do aluno para a escola. Ou seja, a questão central não mais está situada no comprometimento ou deficiência do aluno, mas fundamentalmente na concepção de pessoa humana, sujeito de direitos, e nas condições e serviços que devem ser colocados à disposição pela escola. Assim, na Creche Mãe Cristina, acredita-se que as ações de inclusão do aluno com deficiência intelectual, múltiplas deficiências e/ou física passa em primeiro lugar por uma mudança de mentalidade, de cultura e, concomitantemente, a adequação dos espaços para a viabilização operacional para a prática inclusiva. 
A Unidade Educacional conta com o suporte de uma Pedagoga de Educação Especial que tem o compromisso de incluir essas crianças em igualdade de direitos, mas tendo em vista a máxima proferida por Aristóteles no Século IV A.C., que diz: “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade”, isto é, um cadeirante precisa de acessibilidade, um surdo precisa de um Intérprete em Libras, um cego precisa ter acesso a materiais em Braile e assim por diante. Sem essas especificidades, a pessoa com deficiência não é incluída socialmente, não desenvolve autonomia e tem a própria identidade prejudicada, ainda mais quando o assunto é Educação Infantil.
Por isso nessa Unidade Educacional todos os esforços são feitos para garantir a inclusão, seja com fotos dos ambientes nos espaços por onde um autista circula para se direcionar, seja na construção de materiais que possam elucidar melhor a compreensão de um bebê com Síndrome de Down, formações sobre o tema para a equipe pedagógica e tudo o mais que vá de encontro a necessidade de cada sujeito.
Referência Bibliográfica:
KOHL, Marta de Oliveira. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2010.
REGO, Tereza Cristina.Vygotsky - Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
FALK, Judit - Organizadora.Abordagem Pikler - Educação Infantil. São Paulo:Omnisciência, 2016.
KÁLLOÉva; BALONGGyorgyl. Los Orígenes Del Juego Libre. Budapest: Magyarországi Pikler-Lóczy Társaság, 2013
Emmi Pikler e orientações para os cuidados com os bebês - Parte 1 e 2,Publicado porMariana em Desenvolvimento infantil- Acesso ao sitehttp://www.educacaodecriancas.com.br/desenvolvimento-infantil/emmi-pikler-orientacoes-para-cuidados-com-bebes
BNCC NA PRÁTICA – Tudo o que você precisa saber sobre Educação Infantil – Revista Nova Escola -  Acesso ao site bncc.novaescola.org.br em 05/02/2019